Sob pena de um constante aniquilamento, a palavra foge da mutilação que é dada pela palavra seguinte. Uma delimita a outra. A trajetória é percorrida sabendo que escolha é risco de fim, mas principio de prazer, como o que é dado ao que nasce. Resta um questionamento súbito, acompanhante do trajeto: É possível? Vale a pena? Quem se vale? Aqui a palavra também é? Tantas perguntas são linhas descortinadas em muitos livros de Clarice. A simplicidade - traço original - prolonga-se, avisando que nascimento de coisa em gente e de gente em coisa é partitura velha, mesmo que esquecida. Nada é facil quando se tem por imagem um equilibrio leve, de ponta de dedos, em fios aparentemente invisíveis. A escolha pode ser equivocada, um fio pode ter linha curta, a palavra se faz de rogada, não deve esquecer… Mas se esquece. E é isso que salva a partitura do texto-dissertação, avesso do espelho de uma obra trágica de intensidade amorfa. Ao revelar o segredo nesse princípio-precipício, a autorização é aceita entre um emaranhado de fios - esboços de palavras - pronta para serem lidas. E, aqui, é a leitura que interessa.