Por séculos seguidos a sociedade ocidental acostumou-se a ouvir a música erudita, mormente chamada de música clássica. Nobres e burgueses se renderam ao encanto de compositores que tiveram seus nomes consagrados na história. Beethoven, Mozart, Bach, Carlos Gomes são apenas alguns. Estes e outros compositores construíram e sedimentaram o que ficou conhecido como paradigma tonal, um modo de compor, mas também um modo de ouvir. No final do século XIX a música erudita começou a soar diferente. No século XX as vanguardas questionaram o paradigma tonal e tudo que ele representava não só em termos técnicos mas também sociais e políticos. A música começou a soar bem diferente. O que unia toda a música erudita ocidental, o paradigma tonal, sucumbiu. Atonalismo, serialismo, politonalismo, microtonalismo, dodecafonismo. Música Nova, Música Viva, Nacionalismos. Tentativas de construção de um novo paradigma musical. Anunciou-se mesmo o fim da era dos paradigmas. Outras questões, já presentes no século XIX foram retomadas. Nacionalismo, música popular e música erudita, e no século XX cultura de massa, reprodutibilidade técnica do som. Estas questões aqueceram os debates musicais. E é esta multiplicidade de experiências e debates que possibilita pensar um novo paradigma: o paradigma histórico-cultural. Este paradigma, longe de solucionar as discussões da música ocidental, as retoma e as historiciza. O paradigma histórico-cultural talvez não seja de grande alento para o compositor, pois não trará regras e técnicas de composição. Muito pelo contrário, a adoção de regras e técnicas não o isenta das questões históricas, sociais e culturais que as embasam. O riso cínico de Mozart para a aristocracia, o virtuosismo do romantismo, o isolamento auto-imposto do fim do renascimento não são suficientes. As lutas do século XX mostraram que o musicista não pode mais se desatar das questões sociais.