A produção historiográfica sobre Brasília tem sido influenciada por uma espécie de memória triunfante do Presidente Juscelino Kubitschek. Este é o dado que o faro historiográfico de um ícone político brasileiro antevira, quando JK ainda exercia cargo de governador de Minas Gerais. Na ocasião, o presidente Getúlio Vargas lhe confidenciara, como quem sussurra palavras amorosas ao ouvido de uma dama: o senhor leva uma grande vantagem sobre mim, governador. Dança muito bem. Procure conservar sua forma, porque isso lhe dará grande popularidade. Ao visitar as dependências do Memorial JK, onde um imenso banner destaca aquelas habilidades e as amistosas relações entre os dois políticos, sentimos percorrer-nos a impressão de que Juscelino, seguindo o conselho de Vargas, não só manteve a forma, como fez de cada rodopio uma obrigação que os homens de seu tempo bem conheciam: cuidar, planejar o rumo, variar os passos, segurar com firmeza e orientar o corpo sensual do poder político, pois este, somente a alguns, revela seus mais íntimos segredos. E Nonô foi um que assim o soube ler e durante sua trajetória política vitoriosa, como quem conduzia um souvenir precioso, elaborou uma eternidade minuciosamente planejada.