Em certas ocasiões, almas nobres no mundo cometem essa ou aquela falta. De retorno, entretanto, ao mais além, reconhecem a extensão do erro cometido. Recebem generoso acolhimento de quantos se lhes fazem credores de carinho, mas, em meio das alegrias que experimentam, carregam consigo o ponto íntimo do remorso, ante a culpa adquirida. Surge nessas criaturas um doloroso destaque: quanto mais se lhes exaltam as qualidades, mais se lhes salienta, na própria presença, o débito de que são portadoras. É, então, que rogam aos mensageiros da justiça divina para que lhes seja concedido o ensejo de reparação, ainda mesmo que se vejam obrigados a esperar muito tempo. Querem sofrer a mesma dor que impuseram a outrem, atravessar o mesmo suplício com que torturaram corações sensíveis que, às vezes, lhes doaram as maiores demonstrações de afeto. Este livro estampa um desses capítulos da lei de causa e efeito. Um amigo, erguido à posição de alto comandante de homens, apoiando-se numa calúnia caprichosamente tramada, determina a morte, através do hara-kiri, para o seu mais devotado auxiliar. De nada valem os protestos e justificações. A sentença é executada. Um dia, no entanto, de volta ao grande além, esse mesmo comandante, embora homenageado por vários companheiros, pelas conquistas espirituais que efetuara, sente o espinho do arrependimento a se lhe aprofundar no coração, ao notar que fora vítima de cruel engano. Medita no sofrimento do companheiro sacrificado pela autoridade de que dispunha e, conquanto agradecido à magnanimidade dos amigos que o acolhem, pede-lhes auxílio, a fim de voltar ao plano físico, de maneira a impor sobre si mesmo a pena do resgate, junto do companheiro injustiçado. Decorrido o tempo de espera compreensível, o supliciado do pretérito está novamente no mundo, desincumbindo-se de novos encargos. O rigoroso comandante de outra época aproxima-se dele, enternece-se no ambiente familiar em que observa a digna tranqüilidade do homem que lhe fora vítima e, com o amparo dos benfeitores espirituais, aos quais se liga por afeição imorredoura, nasce na condição de filho do companheiro que ele próprio sacrificara. Entretém o carinho renascente nos pais queridos que o amam com inexcedível ternura e, quando a existência terrestre se lhe consolida, sofre, num acidente doloroso, a mesma provação do amigo de outro tempo, agora transformado no pai amoroso que o acompanha no transe amargo.