"O que eu tinha então, eram aquelas tardes vazias, a planura de um céu azul ou acinzentado acima da minha cabeça e o suave farfalhar do vento nas folhas da figueira. A quietude me dava a sensação de estar me desintegrando, farrapos de um eu sem Arturo afundado no emaranhado das raízes. Fechava os olhos e sentia o pulsar de subterrâneas águas, o cheiro da terra, sua profunda respiração sob meu corpo. Temporariamente, sentia-me apaziguada, mas logo voltava a ruminar uma história que não me pertencia, pois nela eu for irremediavelmente colocada à parte. Chegava a ouvir risos, vozes, gemidos, a sentir o calor dos corpos entrelaçados, o odor acre e excitante do amor. Calafrios percorriam meus braços e pernas, enquanto eu seguia mergulhando naquele rio escuro, sem margens nem fundo: minha dor."