Em 1962, aos onze anos de idade, Carlos Eire, assim como outras quatorze mil crianças, deixou Cuba e voou para os Estados Unidos sem a companhia dos familiares. Em Havana, os rumores de que revolucionários iriam levar os jovens para campos de treinamento fizeram que muitos pais desesperados encontrassem um modo de tirar seus filhos de Cuba, ainda que fossem proibidos de acompanhá-los. Nada seria o mesmo após o presidente Batista ter sido deposto por Fidel Castro na noite de Ano Novo de 1959. Quase quarenta anos depois, sem nunca ter voltado à ilha tomada pela revolução, John-Carlos Eire, já um renomado professor de história em Yale, com vários livros acadêmicos publicados, é tomado de uma urgência que só as memórias trazem e começa a escrever compulsivamente a história de sua infância incomum em um bairro rico de Havana. E é neste lugar pitoresco, onde sua família rica e caótica se mistura aos criados que praticam santería, onde a beleza natural da ilha tropical e seus incontáveis lagartos convivem com os milicianos e a artilharia pesada, que o garoto Eire, então ainda um niño bitongo, ou seja, uma criança mimada, desfia sua história trágica e nos envolve com temas universais como perda e separação, medo e insegurança, raiva e amor incondicional. Nas brincadeiras com os amigos, balas de revólver, cedidas por revolucionários, tomam por vezes o lugar da bola; os objetos de arte do pai, que acreditava ser uma reencarnação de Luís XVI, o perseguem em sonhos proferindo sonoros palavrões em espanhol; os colegas de escola desaparecem sem aviso, fugindo da crescente insegurança, Eire nos brinda com uma narrativa pungente, quase sempre dolorida, sobre um mundo que se despedaça aos poucos, ou sobre o sentimento tão bem descrito em sua língua materna