Boa parte da ergonomia cognitiva está embrenhada numa falha ontológica e epistemológica: a da representação mental. Insiste-se no viés representacionalista que não possui respaldo algum no mundo científico. Os operadores não "funcionam" com base em representação mental, mas vivenciam o mundo do trabalho interligando, em sua cognição, sensações e percepções para ação eficaz. Os operadores não estão a representar um mundo objetivo, mas sim a vivenciá-lo de forma incorporada, e, onde existe vivência, não existe representação mental, conforme detalhado nas páginas deste livro. A ergonomia cognitiva se vale dos conhecimentos de outras disciplinas científicas e, em especial, das ciências cognitivas contemporâneas (CC), que afirmam taxativamente não existir representação mental. Aqui, isso foi trazido para a ergonomia, constatando-se que os trabalhadores, em atividade de trabalho, não elaboram representações mentais sobre o seu trabalho - eles simplesmente o vivenciam. O trabalho é vivenciado corporalmente, com base na potência perceptiva do corpo e na ação sensório-motora no cerne de uma ação perceptivamente orientada, nos moldes da cognição incorporada e da fenomenologia de Heidegger e Merleau-Ponty.