Para Juliana Falcão, a automutilação é uma forma de escrita que se faz no corpo. Escrita que é, muitas vezes, corte na pele, incisão. Como explica a autora, a palavra cortador tradução direta do termo cutter, em inglês, que se refere àqueles que se automutilam por meio de cortes pode ser lida também como corta-dor, incutindo aí a possibilidade de compreensão da automutilação como um meio para diminuir o sofrimento. É o corte que corta a dor, enquanto gesto que inflige dor física para fazer parar a dor psíquica. É partindo dessa compreensão que Juliana Falcão, em Cortes & Cartas, empreende uma profunda investigação sobre a automutilação, desde suas raízes históricas, que vão de práticas ritualísticas ao contexto dos transtornos mentais, perpassando pela abordagem no campo da psiquiatria, ponto de partida de alguns encaminhamentos de pacientes recebidos pela psicanálise ou pela psicoterapia. Paralela à reflexão teórica, a [...]