Moradas, simplesmente, ou, no linguajar cotidiano, casas, trata de uma das experiências vitais do homem. Nelas, há milênios ele se refugia para se proteger das intempéries, descansar, conviver, procriar. E, de quebra, escrever ou filosofar. Por serem, como diz Ivan Angelo, escritor que prefacia o livro, expressões pessoais, por mais que se pareçam com tantas outras, ao fazer a casa ou simplesmente morar nela o homem brasileiro expressa muito de si ou, mais, por meio delas se revela, na maioria das habitações, o estágio social do povo mais simples do país. Como torna explícito Carlos Lemos, renomado arquiteto com excelente bibliografia sobre o assunto, e que escreveu o estudo contido neste livro: Tetos e paredes de palha ou taipa de mão garantem certo conforto ambiental, o que nos autoriza a dizer, sem ironia, que aqueles patrícios pobres não moram mal, embora nem sempre se alimentem como gostariam ou estejam com boa saúde (pág. 18) . Vê-se como o texto de Carlos Lemos fornece reflexão sobre o estágio social e de civilização, iluminando o sentido das moradas. Exemplo, ainda, é o caso do fogão na relação com a morada, visto aquele como legítimo ponto de agregação de gente: Nas casas populares, tanto na roça, como nas cidades, a cozinha foi o ambiente onde houve maior número de superposições funcionais do ato de morar. Tal observação pode ajudar o leitor, por exemplo, a alcançar um mais fundo entendimento das fotos das páginas 36 e 37 (mulher cozinhando). Quanto às cento e tantas fotografias, honram o fotógrafo e o livro que, assim editado, soma-se às excelentes frestas por onde se pode observar o modo de viver de boa parte do povo brasileiro.