Para Que As Árvores não Tombem de Pé. É fina arte de narrar poemas e poetizar narrativas. É o fabulesco a serviço de uma exaltação do dizer em suas amplas potencialidades, muitas das quais negadas pelas experiências ficcionais que nos tem chegado nesses dias confusos. A arte de Maria Célia Martirani propõe uma suspensão do tempo na (e da) linguagem, crente no fluxo de um tempo de delicadeza na expressão e no que ela refere. Uma delicadeza de criação poética em que ação e feitura textual alcançam uma idealizada interrupção daquilo que, no fazer e desfazer do tempo, corrói a matéria prima fina: vida. Em seus contos suspende-se o primado do dizer breve, do pensar miúdo, do viver reduzido ao mero sobreviver. Atinge-se uma escrita que se pretende ampla no que lê da condição humana, numa época de cinismo desencantado e saídas literárias pela tangente da banalidade travestida de pessimismo. Pode ser, por essa medida, que quase nada em Maria Célia seja atual. Eis porque tudo em sua escrita, essencial e imbuída de senso ético, almeje o atemporal, indo na difícil contra-mão do trivial contemporâneo, marginal na esperança que acalenta de uma face humana para a literatura.