A intenção desta obra é estabelecer uma relação entre as propostas da Política do Ensino do Desenho e da Política de Industrialização, ambas de autoria do polímata (jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, tradutor e orador) Rui Barbosa (1849-1923), e os escritos do crítico de arte inglês John Ruskin (1819-1900). Rui Barbosa foi influenciado por uma série de autores cuja afinidade ideológica circunscrevia-se às categorias maiúsculas do Iluminismo: Lógica, Razão, Objetividade, Natureza, Ciência, Progresso, Indústria. John Ruskin, considerado pela crítica da Arquitetura Moderna como um neogótico e adverso à Revolução Industrial, será abordado aqui como adepto dos valores do Iluminismo e não como um medievalista pregador da volta ao sistema feudal de produção. Rui Barbosa, possivelmente, conheceu as ideias de Ruskin a partir de suas críticas à Exposição Universal de Londres de 1851, e do que observou como ausência de arte nos produtos industriais. Na industrialização, a questão estética foi, para Ruskin, não apenas do desenho do produto, mas também e fundamentalmente das relações estabelecidas no processo produtivo. As ideias de Ruskin têm por base uma filosofia da Natureza cuja lógica evidencia-se no relacionamento da política da ajuda mútua: cada elemento natural ajuda o outro para garantir sua existência. Essa seria, segundo Ruskin, a lógica da Natureza e também sua ética. Ruskin estendeu sua filosofia da Natureza para as relações sociais e as relações produtivas, o que levou o arquiteto, designer e empreendedor Charles Robert Ashbee (1863-1942) a implantar uma fábrica de propriedade cooperativa com base nos escritos de Ruskin, bem como nos do designer têxtil, poeta, novelista, tradutor e militante socialista William Morris (1834-1896). Rui Barbosa partiu dessas críticas à Revolução Industrial, mas não chegou a definir um modelo ideal de unidade fabril. Tampouco Ruskin o fez. De fato, Rui Barbosa definiu um tipo de operário: aquele que pensa e faz da [...]