Marcos Serra construiu, sob a forma de um conto mítico, uma narrativa em que personificou dois princípios morais: a Verdade e a Mentira, que resolveram tirar suas diferenças nos jogos olímpicos, à época dos gregos, quando os deuses se uniam aos homens para confraternização. Nas duas primeiras provas - luta e corrida -, Mentira saiu vencedora, valendo-se de trapaças e enganações; porém, na natação, ela era pesada demais e, além de não vencer, foi para o fundo do mar. Verdade foi coroada com as glórias concedidas aos atletas olímpicos vencedores e, no final do dia, no meio da festa, ela viu ao longe um pequeno barco trazendo Mentira; era um velho pescador, chamado Perdão. O recurso da personificação tornou o texto um jogo linguístico enigmático que, ao confrontar os modos de agir, leva o leitor à reflexão. O desfecho é tecido pela surpresa, carregado de lição de humildade, sem pretensões morais. Al Stefano fez um trabalho primoroso, ilustrando o texto com frisas gregas e índices dos tempos de glória da Grécia, trazendo à narrativa informações sem abrir mão do caráter lúdico.