Formoso objeto da ciência contemporânea, corpo humano, corpo de carne e osso da vida cotidiana, tem 5ido palco de numeráveis experimentos tecnólogicos que teimam em remodelá-lo à revelia das coordenadas do desejo inconsciente. Ainda que o homem sempre tenha buscado modificar seu corpo, seu “inimigo íntimo”, seu “estranho próximo”, a Fundação da ciência moderna por René Descartes no século VII ultrapassou as quimeras expressas em pinturas, tatuagens, constrições, alongamentos e perfurações da superfície corpórea. De fato, a separação entre res cogitans (pensamento) e res extensa (corpo) deflagrou uma série de investidas sobre a materialidade corporal que cada vez mais, a faz produzir males diversos e inespecíficos, cujo tom mais nítido é a angústia. A psicanálise, nascida de uma inflexão cientifica sobre a medicina no início do século XX, é hoje um saber que aposta no retorno desse corpo exilado pelos avatares cartesianos não só de sua suposta independência da linguagem, como também de sua pretensa determinação unicamente biológica. Ao expor a dimensão do desejo inconsciente que anima e une pensamento e corpo, a experiência psicanalítica oferece ao sujeito contemporâneo Formas de dizer a causalidade psíquica que o enlaçam à sua matéria, razão pela qual este livro é tão bem-vindo entre nós.