As tradições medieval e moderna constituem-se em momentos de buscas por respostas definitivas para questões fundamentais da existência humana. Uma das buscas inquietantes refere-se às tentativas de definir a natureza humana: a parte humana da natureza ou a parte da natureza que é humana em termos teóricos e práticos; definir o ser humano: a parte do ser que é humana ou a parte do humano que é ser; definir a existência humana: como definir a parte humana da existência ou a parte da existência que é humana. Kant constrói uma argumentação paradoxal para a antropologia, que se torna o estuário do pensamento contemporâneo, ao afirmar que: se pretendermos construir uma reflexão da totalidade do que seja o humano, cairemos numa metafísica; se aceitamos uma reflexão parcial permanecemos num infinito inacabamento teórico ao modo das ciências empíricas. Heidegger radicaliza, no âmbito da linguagem, a tese kantiana de que o ser não é um predicado real. O ser é transcendental, condição de possibilidade de mover-se e relacionar-se consciente no mundo, sendo impossível, também o ser humano, de ser objetificado, pois o ser não é de nenhuma maneira objetivável e que se a objetividade tem o ser por fundamento, o ser não acha nenhum fundamento na objetividade (Waelhens). As argumentações dessa obra buscam entrar na complexa condição comum humana não mais nos termos de uma natureza humana e, em boa medida, arriscando-se na interpretação no contexto atual que assume a forma amedrontadora de uma fuga da liberdade (Gadamer), está em fuga ante o pensar (Heidegger), manifesta um desejo de fuga da prisão terrena e um desejo de fugir à condição humana (Arendt). Ao refletir contemporaneamente sobre o humano sem termos onde reclinar a cabeça, onde encostar a palavra e por não sermos de arrame rígido é que podemos duvidar do que estamos fazendo e, por conseguinte, também de como conduzimos a nossa vida. [...] trata-se do caminho que devemos tomar na vida, e o característico dos humanos parece ser que isso nunca é óbvio (Tugendhat).