No subterrâneo de veludo de Madame Scarpari, tudo está à mostra. Para definir sua prosa, desbocada é a primeira palavra que me vem à cabeça, mas é um drible: desbocar pressupõe retirar a boca e, ao contrário, a autora é voraz em seu apetite por nomear, provar, alimentar, sentir e abocanhar. A autora vê o intercurso como a encruzilhada entre ironia e lirismo: Dois desconhecidos que estreiam o beijo e a foda serão sempre um par tateante num salão escuro. Fala é feminino de falo, portanto o lugar desta prosa é ativo, operante. Olivia ensina que gargalhar de/gozar com machos toscos é bem mais empoderador do que cancelá-los como se depreende pela hilária história da moça de Limite rígido: a narrativa é de quem segura a caneta e bota a boca no trombone, mané. E segue o baile. Nude expõe às entranhas as agruras e greias do tráfico contemporâneo de dick picks, packs de pezinhos e printscreens de pepecas, sem descuidar das nuances mais melancólicas dos amores que morrem mesmo antes (...)