Tudo na vida de um homossexual começa com um não. Em O complexo melancólico, de Guido Arosa: um não do pai, um não dos parentes, um não dos vizinhos, o não de um analista e poderíamos dizer que um quase não da mãe. O livro que começa e termina com a imagem do pai, do quarto dos pais – eu arriscaria dizer que todo o livro pode ser lido como uma carta ao pai ou, pelo menos, como uma carta dolorosa endereçada ao poder –, traz à tona a sobrevivência de um gesto, seja um gesto de tesão, excitação, de amor, ou de escrita em uma sociedade hipócrita que constantemente decreta a morte de um homossexual. Neste livro que se constrói como testemunho autoficcional, algumas perguntas podem guiar o leitor: “O que significa ser um filho, um escritor, um eu homossexual, abusado, doente? O que significa o homossexual, o que significa o abusado, o que significa o doente?”. Essas perguntas serão encenadas, mas caberá ao leitor encontrar as suas próprias respostas.