Quase dois séculos depois de ser escrito, chega ao leitor brasileiro O Diário de Jonathas Abbott. Passado de mão em mão na família ao longo do tempo, essa preciosidade acaba de ser resgatada por um trineto de Jonathas, o Embaixador Fernando Abbott Galvão. Jonathas Abbott nasceu em um bairro pobre de Londres em 1796. Aos dezesseis anos, em 1812, aportou em Salvador como serviçal de um futuro professor da recém-criada escola de medicina da Bahia. Em pouco tempo, iria ele próprio tornar-se médico, cirurgião, catedrático na mesma escola, colecionador de arte, homem de posses e prestígio. O Diário, em sua maior parte, é o relato da viagem que o autor fez à Europa, entre 1830 e 1832, para conhecer e aprender as últimas técnicas com os grandes médicos da época. Entre arrepiantes descrições de procedimentos cirúrgicos, viagens acidentadas, problemas de saúde, padecimentos financeiros, reencontros com familiares e constantes saudades da terra de adoção, o jovem inglês abaianado escreve, em português, provavelmente o primeiro registro das aventuras e desventuras européias de um brasileiro esclarecido que pinta um retrato muito próprio de seu tempo. É o que observam Fernando Abbott Galvão, cujo minucioso trabalho de pesquisa ilumina os caminhos do Diário, bem como do diarista, para o leitor contemporâneo, e Rubens Ricupero, que assina o prefácio inspirado e esclarecedor. Trata-se de um livro raro. Um documento histórico - em especial, mas não só, na área da medicina - que flui como uma agradável narrativa. Um diário que se lê quase como um romance. Uma história que se conta como um filme de época brasileiro encenado na Europa.