Heróis da história não escrita, criaturas da Mãe única e plenipotente, esperanças dela e uns dos outros; ergam-se como leões após o sono, atirem ao solo como orvalho essas correntes, pois vós sois muitos e eles tão poucos! Com versos inflamados como esses de Shelley, toda uma geração de poetas insuflou o ânimo público, no período turbulento que se seguiu à Revolução Francesa, clamando em tom profético a vitória do povo, da nação e da revolução que ensejariam a criação de um novo mundo de homens livres, destinados a viver na solidariedade, na paz e na abundância até o fim dos tempos. Esse levante visionário e apaixonado dos inconformados e da sede de justiça se estendeu até o fatídico ano de 1848, assinalando um dos momentos mais frementes da história ocidental, chamado A Primavera dos Povos. Nele vicejaram as Utopias Românticas, secretando a seiva vital do impulso revolucionário pela liberdade, igualdade e fraternidade, tal qual se mantém pulsante nos corações mais generosos até hoje. Elias Thomé Saliba, um dos historiadores mais eruditos e sensíveis de sua geração, recria num painel amplo e vigoroso, ponteado de observações refinadas, as glórias e as misérias dessa ousada aventura política e cultural. Um livro inspirador e, nesse mundo neoconservador e opaco, mais oportuno que nunca.