Os versos de Abel Silva viajam através das poderosas vozes dos maiores intérpretes brasileiros. Sua vitoriosa militância como letrista, porém, jamais o fez abandonar o texto literário que, aliás, veio antes de suas canções. "Escrevo praticamente todos os dias, em pé, em cadernos e blocos que vão se acumulando até virarem livros." Com poemAteu não foi diferente. O título - com a letra A maiúscula inclusive -, surgiu antes do poema, lá pelo terceiro, quarto caderno - e mudou tudo. Não que o autor buscasse o exercício de qualquer proselitismo ("o ateu que prega é só um outro tipo de religioso"): o "ateísmo" nele é menos descrença religiosa e mais "atitude existencialista", isto é , vale a vida sem transcendências compensatórias. "A esperança é um grilo", afirma, com um humor singular que criou frases famosas como "a juventude é uva, depois passa", "à noite todas as pardas são gatas", ou ainda "o bar é o descanso do lar" que, usada por Jaguar como epígrafe de livro, ganhou os azulejos dos botecos do Brasil afora.