Ao nos debruçarmos sobre o ensaio Las kenningar de Jorge Luis Borges, propomos reflexões acerca desse recurso característico dos poemas medievais islandeses, que é acomodado sob a noção de metáfora. Certo ângulo aberto pelo texto de Borges permite pensar as kenningar de uma forma que é surpreendentemente próxima do perspectivismo descrito pelo antropólogo Viveiros de Castro em suas reflexões sobre a vida e o pensamento ameríndio. Tal afinidade é fomentada por inusitados encontros- se o sangue, por exemplo, nas kenningar, pode ser a cerveja dos corvos para os ameríndios, pode ser o cauim do jaguar. Destacamos nos dois casos o privilégio de uma perspectiva e a predominância das relações em devir - e isso de um modo que promete subverter o pendor logocêntrico, que tende a permanecer como matéria velha em percepções contemporâneas ocidentais sobre a palavra, mesmo entre os mais perseverantes críticos da visão representacionista da linguagem.