Em país que, com tristeza, sentimos ainda estar imerso, enredado em privilégios senhoriais e patriarcais, mais um esforço para rompermos qualidades do colonialismo que perduram em nossas culturas de olhos voltados ao exterior, olhando para dentro do Brasil e de nós mesmos. Como contextualizou Michel de Certeau, a letra inicialmente usada para leitura e interpretações de sermões e parábolas bíblicas com a descoberta do Novo Mundo e o advento do Estado-nação, alçou voo em direção a escrita conquistadora do Outro, desde e com princípios, interesses, valores estatais. Como bem situa Ênio José da Costa Brito a história desenvolveu-se no início da criação do Estado Moderno, que tem na ideia de soberania sua peça chav, com historiadores centrando-se, reforçando histórias nacionais, à margem de relevâncias de processos históricos. O paradigma atlântico e novos olhares à diáspora e escravismo só em fins do século XX supera as tradicionais abordagens estatais, voltando atenções a outros agenciamentos políticos e culturais. Em Leituras Afro-brasileiras II, continuando suas minuciosas leituras e re exões de textos sobre religiosidades africanas e afro-indígenas, desvenda traços marcantes, particularidades e diversidade de fundamentos históricos da sociedade escravocrata brasileira. (Maria Antonieta Antonacci, Professora Associada Programa de Pós-Graduação em História da PUC-SP)