Ao se debruçar sobre a alimentação dos habitantes do Planalto de Piratininga do século XVII e início do XVIII, Rafaela Basso nos revela um mundo novo que gravita em torno da cultura e processamento do milho como elemento decisivo a sustentar a conquista e ocupação dos sertões paulistas.Inicialmente considerado como alimento de animais e de bugres, o milho sofre uma marginalidade que só é superada à medida em que vai mostrando sua funcionalidade nas tropelias da conquista sertaneja. Com o advento dos monjolos no século XVIII e a fabricação da farinha de milho, segundo técnicas indígenas, o alimento vai ganhando cidadania até chegar a ser – como ainda é hoje – um dos pilares da alimentação sertaneja. Rafaela Basso, numa acurada pesquisa, passa em revista a historiografia sobre a alimentação paulista e suas principais teses e, com base em fontes primárias, visita criticamente a obra de Sérgio Buarque de Holanda, corrigindo, aqui e ali, aspectos relacionados com a datação de suas conclusões.O resultado disso é que o milho, visto desde o interior dos domicílios, em confronto com o trigo e a mandioca, ou ainda na faina sertanista, aparece como personagem novo na adaptação dos colonizadores às novas terras.