Marcelino foi o último gentleman da Bahia. Era da época em que empresários ainda não tinham desenvolvido suscetibilidade alérgica às coisas do espírito, nem reduzido suas ambições turísticas à Flórida. Sua biblioteca só foi feita à imagem e semelhança dos templos, porque livros eram objetos sagrados - e para ser lidos: o empresário, cuja escolaridade não ia além do quarto ano primário, dominava algumas línguas estrangeiras e foi um brilhante autodidata, sabendo apreciar os clássicos da literatura na mesma medida em que se interessava por botânica ou pela música de concerto (o amante de ópera exibia, em sua mesa de trabalho, um retrato autografado da soprano romena Alma Gluck, estrela da belle époque). Dados biográficos do finado Marcelino é a história de um homem de sucesso, comerciante vitorioso que soube transformar uma pequena herança roceira em grande empresa baiana, cujas viagens de negócios ao exterior eram também excursões do espírito. Se a Bahia tivesse tido uma dúzia de homens como ele, seria ela a locomotiva da nação.