Não posso deixar de contar ao mundo o que vivi em Monróvia. Quero emprestar minha voz a essas moças, das quais ninguém quis ouvir os pedidos de ajuda. Quero também que o mundo descubra a face oculta de uma missão da ONU em um pequeno país da África abandonado pelos deuses. Quero, finalmente, que se saiba do que são capazes os homens num país sem leis. Dos soldados das forças de paz aos pervertidos homens de negócios, foram raros aqueles que vi resistir à tentação. Como as liberianas resistiriam à vontade de fugir? Seu país está entre os mais pobres do planeta. Além disso, não é necessário usar as linhas aéreas, que são muito vigiadas. Basta que os passadores as levem de carro para um dos países fronteiriços, Serra Leoa ou Costa do Marfim. De lá, nada impede que os intermediários da rede façam as meninas viajarem nas linhas aéreas de sua escolha. Não tenho meios de mandar vigiar as estradas, nem o poder de intervir fora dos países sob o mandato do Conselho de Segurança da ONU. De que serve proteger as estrangeiras vendidas na Libéria, se não podemos fazer nada para impedir o tráfico das nativas para o exterior? Nenhuma família se queixou até agora. Uma quantia interessante e um contrato de trabalho bastam para calar todo mundo?