Este livro é uma estória de amor. O amor entre a miséria da condição humana e suas memórias de potência. Um homem é seqüestrado e a partir daí, tudo o mais fica refém de uma estranha sorte. Enredos entrelaçados mimetizam a busca de um sentido honesto para a cultura. Maria Tereza, grávida de um subúrbio de São Paulo, perpassa todo o tempo sonhando sinistras fábulas contemporâneas. Um sábio - Hierofante - infunde apaixonado questionamento sobre a cultura e seu perverso charme em se fazer oportuna de seus lucros. Os autores, personagens inclusos, tornam transparentes o processo de criação da trama, tendo como pano de fundo o cotidiano de artistas entrincheirados. Santa Tereza D’Avila, num grito orgástico de paixão à vida, manifesta a visão de Deus se curtindo através das coisas. Tudo transcorre como num único instante - o exato intervalo em que uma gota de orvalho toca o chão. Como em um gesto último, fazendo um mix de linguagens, este romance parece se transformar em cinema, em teatro multimídia, em uma sugestão para montagem plástica... enfim, uma névoa o pulveriza e tenta devolver à literatura o seu nada formal, ainda que repleto de uma madura confiança. Rica em símbolos mágicos e de imagens que se sucedem aos borbotões, os personagens, autossequestrados por seus medos de se tornarem eles mesmos, perguntam: É possível uma sociedade sobreviver quando sua cultura está desespiritrualizada? Com as nossas crenças de segurança projetadas no objeto externo, ainda é viável o humano? Narrativas dentro de narrativas e um Brasil distraído de sua emergência é retratado com paixão. Uma paixão enfurecida e beatífica. Aqui, uma identidade nossa e universal, gestualiza possíveis presentes intensos em construção e libido. Este é um livro cheio de uma esperança póstuma. Quando o cinismo vira a curva de seu exausto exercício tornamo-nos criancinhas brincando de verdade.