Enquanto a maior parte das pesquisas sobre Augusto Boal concentram-se ou no Teatro do Oprimido, ou na fase do Teatro de Arena, Clara de Andrade elegeu um ângulo original para analisar a trajetória do dramaturgo e diretor de teatro brasileiro. Em O exílio de Boal, a pesquisadora se detém sobre o período de exílio político e sobre a obra teatral que ele desenvolve a partir desta experiência. Com base em entrevistas, reportagens, e na correspondência a que teve acesso, Clara retraça o percurso biográfico de Boal durante o tempo passado à força no exterior, examinando também a sua recepção pelo meio artístico no seu retorno. Ao longo do livro, a autora expõe as tensões políticas, sociais e as transformações no teatro com as quais o artista dialogou ou contra as quais se rebelou. Mostra que, como um teatro sem fronteiras, a obra de Boal mapeia os fenômenos culturais e políticos que afetaram os diferentes países em que realizou seu trabalho. Revela como o texto do dramaturgo, mais do que artístico, ganhou uma função de crítica das pressões a que os mecanismos de produção artístico-cultural estavam submetidos naquele período. O exílio de Boal faz muito mais do que falar do silêncio, tortura e superação vividas por um artista que sempre ousou desafiar convenções. A obra dá voz a um entre tantos brasileiros submetidos ao exílio, à violência da ditadura e ao esquecimento. Dessa forma, o livro contribui para que a narrativa sobre este artista que dedicou sua vida à busca de um teatro que fosse transformador da realidade possa iluminar também parte da nossa história.