Como a violência narrada na mídia toma a forma de medo, que se alastra por toda a sociedade? Com foco no discurso midiático e na dinâmica comunicacional em torno do medo - e não só pela via da "informação", como pela dimensão do "sensível" -, Leticia Matheus estuda, neste livro, a narrativa do medo na mídia. Por meio de dois fatos policiais narrados em jornal, ela, sem o objetivo de detalhar os fatos em si e sim analisar o modo como são descritos e passados à população - e como a população os recebe e sente -, aprofunda-se no discurso midiático e suas repercussões. Constatando que o medo se transforma em protagonista nas reportagens policiais, a autora observa também que o acionamento das sensações é uma característica comum dessas narrativas. Por outro lado, segundo ela, o jornalismo não seria capaz de gerar autônoma e automaticamente o medo, sem que para isso houvesse condições simbólicas, construídas na longa duração da história. Discutindo ainda o que seria ou não sensacionalismo, ela não descarta a responsabilidade dos jornais na promoção do pânico, ao realimentar um ciclo de mútua estigmatização.