"Aventurar-se pela obra literária de Chico Buarque é uma experiência instigante, provocadora, que desabilita a zona de conforto do leitor, levando-o a deambular pelo mundo labiríntico de palavras, de signos, de imagens e de alegorias, permeados por uma ficção ondulante e enigmática. Linguagem, corpo, cotidiano e sonho dissolvem-se nos romances buarquianos. Suas obras configuram a visão alegórica do vazio existencial do homem contemporâneo, diante da ausência ou perda de identidade pelos protagonistas, restando para eles a melancolia e a história de memórias em ruínas. Essas ruínas são análogas às do barroco e reproduzem-se nas incertezas do mundo moderno, como já representadas na lírica de Baudelaire. Vive-se hoje sem utopias, sem rumos. O mundo torna-se cada vez mais ilusório, à medida que se torna mais virtual com a supervalorização da imagem. Noutro sentido, a ambivalência da alegoria instaura uma resposta que pode ser não só o vezo do melancólico apático e paralisante, mas também uma atitude avessa, em que se reorganizam os fragmentos e se recriam novas possibilidades de significação."