O mundo dos personagens de Marcos Rey comeca quando o sol se poe e a noite cai sobre a cidade de Sao Paulo. Entao, boemios, garotas de programa, gigolos, guerrilheiros urbanos (o livro foi escrito nos dias da ditadura militar), dancarinas de cabares, taxi girls, alcoolatras comecam a sair das tocas, como ratos famintos, em busca de aventuras, de divertimento, de um trouxa, de um trocado, de uma garrafa de alcool, ou do simples e exato exercicio de suas profissoes. Como diz o autor, sao homens e mulheres que param nos bares, restaurantes, inferninhos, cabares, boates e em certas casas onde tudo se tolera , por vocacao ou erro de educacao, dor de cotovelo ou outra dor qualquer, vagabundagem. A noite paulistana, seus misterios e miserias, faz a unidade de O Enterro da Cafetina, atando os sete contos entre si e formando um grande painel. O que contam essas historias? Coisas terriveis que acontecem na noite, como diz a Biblia, mas tambem casos surpreendentes, quase pateticos, insuspeitas generosidades. Noitadas de amigos, regadas a muito alcool, que terminam de forma tragica; o gigolo bem-sucedido, homem de muitas mulheres, apaixonado por uma moca de familia, a quem auxilia financeiramente; a morte e o enterro retumbante da velha cafetina; jogos de seducao em que cada um procura lograr o outro; a acao de guerrilheiros mais ou menos trapalhoes; um caso de ciumes neurotico; o redator alcoolatra lutando pela sobrevivencia. Com um texto fluente, enxuto e dominio absoluto do conto, Marcos Rey acompanha com naturalidade e sarcasmo, por vezes zombeteiro, as pequenas odisseias de suas criaturas, trituradas pela cidade grande, incapazes de encontrar um sentido para a vida e se lixando para isso, interessadas apenas em viver o imediato. Como autenticas criaturas da noite.A noite paulistana com seus mistérios e misérias. Nestes contos vemos os boêmios, garotas de programa, gigolôs, dançarinas de cabaré, alcoólatras que saem de casa assim que a noite desce, em busca de aventuras, divertimento, um ganho. Um mundo com as suas regras próprias, duras, mas também com casos surpreendentes, quase patéticos, generosidades insuspeitas.