"São cinqüenta e oito contos. Cinqüenta e oito conflitos íntimos. Cinqüenta e oito sessões de eletrochoque. (...) cinqüenta e oito crises transcendentes". Assim o escritor Nelson de Oliveira apresenta os contos de Cida Sepulveda reunidos no livro Coração Marginal, lançamento da Editora Bertrand Brasil. São textos líricos e densos, repletos de imagens fortes, de pensamentos inacabados e de temas delicados como solidão, sonho, gozo, sexo, culpa, crime, vida, morte, desejo. Frases que traduzem um mundo de afetos rudes, de sentimentos ainda não transformados em produto, do sexo bruto, da violência espontânea, da dominação improvisada. Os personagens, o tempo, o espaço e a ação ganham a velocidade incrível dos sonhos graças ao olhar fragmentado e lírico do narrador. Os protagonistas estão alheios às mudanças trazidas pela Revolução Industrial e pertencem ainda ao nosso passado selvagem, ao primitivo fundo das fazendas, do campo, das cidades, das regiões localizadas na fronteira entre o arcaico e o moderno. Cida reúne grandes elogios: "Tem solidão verbal esta jovem contista. Ela arma as palavras na frase com o amor de alguma falta. Cida procura e acha para a sua linguagem uma unidade sonora e íntima. Louvo este Coração Marginal com a sua ternura pelos seres desprotegidos. Cida Sepulveda tem voz própria; via assim no seu livro de poemas Sangue de Romã. Nunca esperei outra coisa de Cida senão o que costumo chamar de Milagre Estético. Sua formosa arte há de ganhar os bons leitores brasileiros", disse o poeta Manoel de Barros. Assim como Dalton Trevisan, Cida Sepulveda, nos contos de Coração Marginal, tem a capacidade de, por meio de uma economia de palavras, esbanjar sentimentos.