A cineasta Maya Deren, uma vez, instada a circunscrever seus filmes na esfera do surrealismo, disse que não tinha qualquer intenção ou compromisso com o automatismo psíquico. Seu universo fílmico, segundo ela, era o da investigação de camadas mais profundas e de ângulos menos vislumbrados da vida. Em outras palavras, as de Gaston Bachelard, a imaginação poética e as manifestações artísticas que dela partem e nela firmam afinidades é uma ultrapassagem, antes de uma subversão, do real. No território da ficção escrita, a prosa poética dá licença irrestrita às imagens verbais: não-raro seu mote é o que se revolve na subjetividade das experiências. Em afinidade com Maya Deren, mas também com outros criadores estéticos da imaginação irrefreável, Adelaide em terceira pessoa, de Claudinei Sevegnani, é um livro de perguntas. Elas orbitam assuntos como identidade, perda, deslocamento e assombro diante do estado das coisas. Mas, são perguntas-hidras; isto é, quando pensamos que as (...)