Conversa comigo” reúne 42 crônicas. Textos que não apenas dialogam com o leitor, mantendo o humor e um olhar para o cotidiano, mas também são ricos em literariedade, ou dito de outro modo, possuem uma percepção de que algo, na linguagem, extrapola a função referencial e nos remete a uma dimensão poética (ou simbólica). Em vários textos se delineia nitidamente uma mescla de história pessoal com o ficcional, ao mesmo tempo em que uma poesia inesperada espia através dos fatos da memória. Há nas crônicas de Ricardo Ramos Filho uma profusão de temas que nos deixam perplexos. A denúncia social, equilibrada ao momento lírico, provoca efeitos contundentes no leitor. Aparece “nua e crua” nossa problemática comum. A problemática de uma ‘democracia’ cínica que insiste em não reconhecer a verdadeira guerra urbana em que vivemos e que mata 62 mil pessoas por ano! Corrupção, desemprego e miséria são a tônica no país do carnaval que aprendeu a ser assim, a se aceitar assim, depois de 300 anos de escravidão. Finalmente, vale a pena ainda mencionar aqui a crônica “Leilão”, em que o autor narra a tentativa de resgatar um exemplar de “Vidas secas” autografado em 1938 pelo próprio Graciliano Ramos, avô do cronista deste livro.