A memória é em Salim Miguel, sobretudo nos contos, o seu fio de Ariadne com que entra no Labirinto ao encontro do Minotauro. Ele quer encontrar o Minotauro, precisa defrontar o monstro. Vai com a resignação obstinada dos que sabem que o touro existe e certamente sacrificará o intruso. Mas vão. Erram, se desencontram e desencantam, e eis que, de repente, ao entrarem num anfiteatro, dão com ele, o touro, e há que enfrentá-lo, como dizia o poeta Lorca: 'Al toro tengo que ir, aunque vaya de prestado.' Sim, tenha-se ou não indumentária de toureador. Hélio Pólvora "Exercício de memória, exercício de escritura, a reconstituição de experiências vividas não se dissocia do ato de pôr em questão de modo permanente uma suposta versão definitiva. Na vida, como na literatura, a realidade permaneceria em parte uma interrogação, constrangidos que seríamos a reescrever constantemente nossa versão das coisas sobre as páginas do verossímil."Luciana Wrege Rassier