Certas imagens, sem razão, sem que queiramos, se agarram em nós, ficam de forma obstinada em nossa lembrança, embora mal tenhamos consciência de tê-las registrado e não correspondam a nada de importante. É assim que Maigret, anos mais tarde, poderia quem sabe reconstituir minuto por minuto, gesto por gesto, aquele fim de tarde sem história no Quai des Orfèvres. Primeiro o relógio de pêndulo em mármore negro, com ornamentos de bronze, no qual seu olhar pousou quando ele marcava 18h18, o que significava que era um pouco depois das seis e meia. Em dez outras salas da Polícia Judiciária, tanto na do diretor quanto nas dos outros funcionários, havia relógios idênticos flanqueados de candelabros e, desde tempos, imemoriais, eles também atrasavam. Jules Maigret é o mais famoso personagem do escritor belga Georges Simenon (1903-1989), um dos autores mais lidos e cultuados do século XX. Reservado, generoso, amante do cachimbo e de uma boa cerveja, o inspetor Maigret conquistou - em 75 romances e várias histórias curtas - legiões de admiradores em todo o mundo. Lançando mão de sua profunda compreensão da natureza humana como principal instrumento na solução de crimes, tornou-se um marco da literatura policial, ao lado dos mais célebres investigadores, como Auguste Dupin, Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Philip Marlowe.