Abertura entre as nuvens procura oferecer nova interpretação da obra memorialística de Graciliano Ramos, dando especial atenção à Infância (1945). Por meio de uma leitura cuidadosa do texto e de sua recepção crítica, bem como pelo diálogo estabelecido, de maneira pontual mas decisiva, com a filosofia contemporânea, o autor procura destacar a centralidade do drama ético que percorre a obra do escritor alagoano. Conforme propõe o volume que se tem em mãos, temas como a responsabilidade, a compreensão e o acolhimento vão conviver, em tenso equilíbrio, com a vivissecção do ressentimento e da violência que sempre caracterizaram a prosa de Graciliano, resultando daí que a imagem mais adequada para descrever a narrativa de Infância seja a do homem na corda bamba, dividido entre dois abismos: de um lado, o passado e seus fantasmas, a dor e os traumas de uma criança infeliz; de outro, o presente, no qual um homem adulto, o narrador, luta para afastar preconceitos, mitigar ódios, entender as muitas circunstâncias e contingências que motivam as ações humanas.