Crossroads acompanha quarenta anos de vida de um rematado perdedor: um escritor que não consegue escrever, um revolucionário sem bandeira, um amante sem amor. Desde as barricadas inconformistas dos áureos 60 até o mingau pós-tudo dos 2000 - passando pelo chumbo dos 70, "o prenúncio da merda" dos 80 e yuppismo infantiloide dos 90 -, seu anti-herói sem nome atravessa um mundo de desilusões, levando uma suspeita por ritornello: a de ter feito negócio com o Cujo em alguma encruzilhada do passado. Mas, diferentemente do bluseiro Robert Johnson, que teria vendido a alma em troca do gênio musical, como supostamente narra em seu "Cross Roads Blues", o looser desta história não sabe o que recebeu do Maligno, embora confirme a cada passo o que lhe entregou: a felicidade no amor - e muito provavelmente a própria lembrança da transação. Sem amor, nem memória, nem ciência do eventual dom - mas também sem o cinismo para "se dar bem" e "chegar lá" dispensando tudo isso -, o protagonista se esmolamba à cata de algum sentido para a própria existência. No percurso, passa em revista os sonhos e pesadelos de várias gerações, homenageando os caídos e fazendo graça com a própria desgraça, ao som e no ritmo do melhor blues & rock. Ao final, a resposta se oferece como uma nova indagação, com potência para catapultar todos os questionamentos para outro plano. A narrativa de Lonza joga brilhantemente com as pautas do jornalismo gonzo e da moderna autoficção. Com algumas matreiras pinceladas autobiográficas, levará mais de um leitor a enxergar nesse quadro de mestre uma impiedosa autocaricatura. Para além da tentação charadística de detectar onde se blefa contando mentiras como se fossem verdades, e onde se faz exatamente o contrário. Novo romance de Furio Lonza, Crossroads joga brilhantemente com as pautas do jornalismo gonzo e da moderna autoficcao. Com pinceladas autobiograficas, a narrativa acompanha de modo agil e bem-humorado quarenta anos da vida de um escritor e seus desencontros afetivos e profissionais, da aurea decada de 60 ate o pos-tudo dos anos 2000. Como o mestre do blues Robert Johnson, nosso protagonista teria vendido a alma ao diabo em alguma encruzilhada do passado, mas agora, decididamente, nao se lembra o que recebeu em troca nessa transacao.