Este livro, como todo bom livro de poesia, não pode ser apresentado. Nele atua não apenas aquele lugar comum, popularizado após a sedimentação dos conceitos formalistas, de que não se pode parafrasear um poema. Não, nesta obra estamos diante de um fenômeno mais complexo do que a irredutibilidade da linguagem lírica. Trata-se aqui do estatuto do poema como ato que devolve às coisas a sua verdade íntima, isto é, abre o mundo – sua origem, presença e fim – para si. O único logos estável que permeia a prática poética de Vanessa Regina, portanto, é esse esforço de permitir que as coisas (palavra utilizada em vários de seus textos), por um breve momento – a partir de um gesto qualquer ou de sua relação com fenômenos de ordem distinta – tomem consciência do que são, do que eram e do que podem vir a ser. Não há lição ética, ideológica ou social nos poemas da autora que não seja, antes de tudo, uma lição de poética.