Costuma-se dizer assinala Fernando Savater no prólogo desta edição -que os escritores mais notáveis de uma época, aqueles que durante a sua vida atingiram contemporâneos, passam, ao morrer, por um purgatório, instalam-se para sempre na glória dos eleitos, no limbo dos estudados, no rodapé dos manuais ou no inferno do puro e simples esquecimento. Sem dúvida, a Miguel de Unamuno (1864-1936) ensaísta, poeta, dramaturgo, novelista e escritor total coube a glória, mas não feita de admiração sem mácula e reconhecimento pleno; sua glória é litigiosa, pugnaz, pródiga em ironia e escândalo, em dúvidas e reconversões. Publicado em 1913, Do sentimento trágico da vida nos homens e nos povos é a obra em que a inconfundível voz unaminiana ressoa, talvez mais intensa e profundamente se os gostos de épocas anteriores dificultam uma leitura calibradamente poética desta peça irritante de reflexão sem medida os anos transcorridos permitirão uma aproximação mais íntima a essa mensagem de narcisismo [...]