O presente livro passa em análise a evolução das relações políticas na África Austral no período que medeia entre 1974 e 1989. A escolha das duas datas não foi aleatória: 1974 é o ano da "Revolução dos Cravos" em Portugal, que abalou radicalmente o equilíbrio de forças no subsistema regional da África Austral; 1989, por seu turno, foi o ano da chegada ao poder de Frederik Willem de Klerk, personalidade política condenada a tornar o regime sul-africano conforme com a democracia, esse novo princípio da legitimidade internacional; mas o ano também do fim efectivo da projecção de poder do conflito bipolar na região. Não procurámos distinguir entre as "boas" e as "más" políticas, cujo único critério de avaliação aceitável continua a ser o seu desfecho. Apesar das "boas intenções" que guiam sempre as decisões políticas, recordemos os ensinamentos do florentino Nicolau Maquiavel, esse autor tão proscrito quanto seguido, de que a natureza humana persiste em glorificar o sucesso e em condenar o fracasso, independentemente do "bom" ou "mau" fundamento ético das decisões. Este nosso estudo reproduz tanto as vantagens como as vicissitudes de uma abordagem neo-realista da cena internacional, a qual tem a estrutura do sistema internacional por factor explicativo determinante das relações políticas entre os seus membros; relações essas que, consequentemente, são tenuemente influenciadas pela lógica interna dos sistemas estaduais. Se as preocupações de ordem metodológica não devem ser ignoradas, elas também não podem converter-se num obstáculo à compreensão da dinâmica permanente dos assuntos internacionais, onde nem tudo procede necessariamente nem sempre apenas e exclusivamente da distribuição de forças. Enfim, apesar da introdução de uma multiplicidade de novas variáveis na vida internacional, conservamos a convicção "realista" que a luta pelo poder, pelo prestígio e pela riqueza continua a ser a própria essência da política internacional.