Para entender o impacto das mídias digitais precisamos entender seus precursores analógicos. Cabe retornar a Edison e em seguida dirigir-se a Turing. O que acontece quando fonógrafos e câmeras erodem a hegemonia da imprensa? O que se passa quando palavras que meramente simbolizam coisas são desafiadas por dispositivos capazes de capturar os efeitos físicos do real na forma de ondas de som e luz? E se a escrita á algo quintessencialmente humano, o que acontece aos humanos- ou melhor, o que são os humanos- quando essa atividade é mecanizada por máquinas de escrever? Ninguém traçou o impacto discursivo e ontológico das mídias analógicas em maior profundidade que Friedriich Kitter; e em nenhuma parte ele apresenta um relato mais acessível e convincente que em Gramofone, Filme, Typewriter. Graças à combinação inaudita entre reflexão teórica e expertise tecnológica, à singular mistura de análise do discurso francesa (Lacan e Foucault), teoria da mídia canadense (McLuhan) e filosofia alemã da técnica (Heidegger), ele se tornou o mais importante livro de Kitter. Sua verve provocativa já está presente na notória frase de abertura: "Os meios determinam nossa situação". Permanece aberto ao debate se a tese é verdadeira, mas esse debate foi inquestionavelmente moldado por Kittler. Gramofone, Filme, Typewriter determina a situação da teoria da mídia.