Passagens para a África» conta-nos a história da migração para Angola e Moçambique de centenas de milhar de portugueses naturais da metrópole, entre cerca de 1920 (início da ocupação civil) e 1974 (vésperas da descolonização). Neste livro apresenta-se uma visão panorâmica da migração colonial, cruzando três abordagens complementares: uma história das políticas oficiais e das concepções ideológicas em confronto sobre os modelos de povoamento a levar à prática nas principais colónias africanas, um estudo sociológico da migração de portugueses para Angola e Moçambique e da população branca residente naqueles territórios, uma história antropológica dos colonos, procurando compreender como eles se viam a si próprios, como se comportavam e interagiam com o novo meio físico e humano, e que reivindicações dirigiam ao poder central. O registo macro é então invadido pela perspectiva das ‘pessoas comuns’. Em diversos momentos, envereda-se por uma abordagem comparativa dos casos de Angola e de Moçambique, nomeadamente no que respeita ao número de migrantes envolvidos, à sua origem social e à cultura que engendraram no destino. Há também a preocupação de situá-los no processo histórico do colonialismo de povoamento, realçando semelhanças e diferenças em relação a outras colónias de povoamento no continente africano. Reflectindo sobre problemáticas ainda envoltas em muita emoção - a colonização branca da África portuguesa, as identidades reconstruídas em contexto colonial, as ‘relações raciais’ -, Cláudia Castelo assume o desafio do confronto com discursos apaixonados, velhos mitos, dogmas de quem viveu a experiência traumática da violência e da exploração ou da perda e do regresso ‘forçado’.