Uma vila, uma senzala, um campo de concentração, um hospício, um reflexo do que acontece nas ruas da cidade? As histórias guardadas pelos muros da Fazenda Modelo, o maior abrigo de mendigos da América Latina, são contadas pelo ex-diretor Marcelo Antônio Cunha, em relato que mistura denúncia e emoção. Convivendo lado a lado com a insanidade de um mendigo como Bacana, que pensava ser um cachorro, havia pessoas como Dona Sonia, ex-aeromoça, que foi parar no abrigo após um acidente de avião. Depois de passar anos na Fazenda Modelo, a indenização da companhia aérea finalmente foi liberada pela justiça e ela pôde comprar uma casa e viver confortavelmente com a filha. Outro dos personagens inesquecíveis do livro é Barnabé, compositor com vários CDs gravados que acabou nas ruas. Recolhido ao abrigo, acabou sendo localizado por um produtor musical e reencontrou a mãe e as irmãs. Casos de pessoas que perdem a memória, como o do arquiteto que foi encontrado vagando pela cidade e só depois de meses na Fazenda conseguiu lembrar-se de quem era. Despejar no papel as histórias das pessoas com quem conviveu, para que um dia chegassem a ser conhecidas pelo resto da sociedade, foi para o autor a única forma de dormir em paz. Mais do que uma denúncia, 'No olho da rua' é um livro que faz pensar na fragilidade humana frente aos percalços da vida.