Iván Izquierdo pertence a um seleto grupo de cientistas que, além de brilharem em seus campos específiços -no caso de Iván, a neuroquímica, área em que realizou pesquisas pioneiras sobre a memória - sabem tornar a ciência humana e humanista. Refiro-me a homens como Lewis Thomas, S. E. Luria, Richard Feymann, e Jean Bernard, que escreveu: O escritor, o artista inventam. O homem de ciência descobre. A América e a função glicogênica do fígado existiam antes de Cristóvão Colombo e Claude Bernard. A Ilíada, O vermelho e o negro não existiam antes de Homero e Stendhal. Izquierdo quer que o leitor cresça, adquira densidade ética e intelectual, e aprimore sua receptividade. Quer que as pessoas sejam livres, como ele próprio o é, não se desviando da luz que lhe dirige as investigações, os pensamentos, as emoções. O jornalismo científico-literário tem sido cultivado nas últimas decadas. São numerosos os investigadores que perceberam que não basta idealizar descobertas de primeira ordem, é preciso comunicá-las com clareza, conferir-lhes um mínimo de expressão, isto é, de qualidade literária, Não é preciso que a ciência se enfeite com plumagens e adornos inúteis, basta que seja bela em si. Basta, como pretendia Juan Ramón Jìménez em relação à poesia,.que ela se desnude. Na medida em que, isso ocorre, a ciência torna-se atraente, e revela suas profundas conexões com toda a realidade. Quem faz ciência é o homem concreto, sujeito ao erro, à enfermidade, à emoção, e até mesmo à loucura. É claro que o cientista, enquanto tal, não é nada disso. Dizia Mario Quintana, quando lhe perguntavam se era O Poeta do Rio Grande do Sul: às vezes... Eis por que ser capaz de mostrar-se cientista e debater temas do dia-a-dia, ter objetividade no laboratório e, ao mesmo tempo, ir além dele, esforçando-se por ser fraterno com os leitores, constitui um título de glória. Izquierdo consegue interessar qualquer leitor com seus artigos, fundamentados científica e filosoficamente, e dotados de um sopro político que os aproxima dos excluídos. São artigos jornalísticos, mas com tal finura c poesia que encantam. Encantam e induzem o leitor a reflexões férteis. Encantam conduzem o leitor à verdade, ou àquilo que supomos que ela seja.