Para a gente-peixe que pisa e nada em muitos mundos, fazer poesia é ancestral. Eu vou desobedecer a ciência moderna para falar de nós. Para mim, cada verso faz parte do que vivemos desde que nos encontramos em Brasília e descemos juntas para a Chapada dos Veadeiros. Foi ali que passamos a nos chamar de irmãs. Foi ali que soubemos a radical diferença entre o mundo branco, feito de lume, de luz; do nosso, de fogo, de espírito, de terra. É nessa certeza que sorrio, ou choro, ou tenho raiva e força. É aqui que a sinestesia dos meus sentidos se sente segura para ler e saber que não há ambiguidade colonial na polissemia das palavras. Nossas palavras são ciência, arte e civilização ancestral, como diz Pirá. E você vai poder senti-las e talvez até ficar com medo ou recuar, porque Não queremos nada além de tudo de volta. Talvez você recue com esses versos porque a colonização produziu essa diferença entre indígenas e não indígenas: de língua, de religião, de economia, de (...)