O presente estudo discute a aplicabilidade do conceito de sociedade civil - uma noção desenvolvida no quadro das sociedades ocidentais e que nelas radica - à realidade de "Angola" pós-colonial. Contra o pano de fundo de diversos exemplos empíricos tidos como paradigmáticos dos processos em curso de construção de um Estado e de uma "nação" angolanos, é defendida a utilidade analítica do conceito, uma vez este reconfigurado de modo a poder dar conta das especificidades próprias deste tão complexo caso. A modelização proposta para o efeito é relacional, retrata a ideia de "sociedade civil" como umbilical e indelevelmente ligada à de "Estado", e encara ambas como parcelas de uma chave particularmente capaz de uma melhor decifração dos difíceis, e muito arduamente contestados, processos em curso. Para tanto é proposto o esboço de uma leitura cuidada das modalidades de participação política e das formas organizacionais da sociedade civil angolana em gestação, nos intervalos que vão do período colonial tardio à 1a República e, desde então, ao longo da 2.ª República, sempre no quadro maior da progressão a que estas duas formas de acção se têm visto sujeitas. O padrão maior que este trabalho tenta decifrar e compreender, é um de um conjunto de tentativas, hoje no essencial político-jurídicas, de decantação de unidades coesas elaboradas a partir de uma base marcada por uma enorme e dificilmente redutível diversidade.