O esclarecimento a que tende esta NOTA PRÉVIA destina-se a evitar a perplexidade de alguns leitores perante a qualificação do género literário em que o livro se integra. Será ele um romance? Será antes um arremedo de ensaio? Quando a autora se concentra para escrever, por via de regra segue os impulsos do seu coração, que não aceita imposições de carácter substancial ou formal. Tal como acontece com as criaturas que se dizem livres, mas não se coíbem de coarctar a liberdade alheia, esse coração dita-lhe as suas ordens, e teve mesmo a ousadia de proferir a seguinte sentença: Escreve um livro que fale sobre a condição da mulher através dos tempos! Não era fácil cumprir uma tal missão. Um ensaio sobre a condição da mulher desde a Idade da Pedra, além de impossível, por deficiência de dados sobre as épocas mais remotas, tornaria o livro mais comprido do que a légua da Póvoa... Por outro lado, também seria impensável construir um romance que abarcasse exaustivamente uma tal matéria e respeitasse ao mesmo tempo as regras por que se rege esse género literário. Então, em face das dificuldades, foi decidido empreender alguns estudos sobre o assunto a tratar, tomar as devidas notas e tentar a experiência de escrever um livro que assumisse uma natureza híbrida e não tivesse a pretensão de ser exaustivo. O mesmo viria assim a beneficiar da condescendência com que é costume julgar qualquer possível imprecisão histórica em trabalhos de ficção literária. Este romance foi, pois, dividido em dez capítulos, alguns deles bastante extensos, subdivididos por sua vez em várias partes, através dos quais perpassam histórias situadas em fases sucessivas da Humanidade. Em cada uma dessas histórias existe uma mulher que desempenha, simultaneamente, as funções de narradora e personagem central. Entre os vários capítulos e as várias histórias existe um fio condutor, pois cada uma dessas mulheres está ligada à mulher do anterior capítulo por laços físicos ou espirituais. Este trabalho tem ainda a particularidade de referir, em apêndice, as obras cuja consulta se revelou indispensável. Não é costume proceder deste modo quando se publica um romance. Mas, assumindo ele uma natureza algo pragmática e descrevendo os ambientes e as características sociológicas inerentes às várias épocas, não seria intelectualmente honesto omitir as fontes que permitiram compor os vários cenários em que actuam as personagens deste MEMORIAL DE MULHERES.