A história da literatura é a história de muitos roubos. Desde o início dos tempos, escrever é reescrever. Alguns escritores conseguem esconder o crime e a arma. Outros, no entanto, não se prestam a tais pirotecnias. É o caso de Marina Maria. Nenhum poema deste livro foi originalmente escrito por ela. Eles surgiram a partir de um truque que consiste em anotar frases absurdas, pitorescas e engraçadas ditas por pessoas, conhecidas ou desconhecidas, em lugares diversos como uma festa chata com gente esquisita ou uma viagem interminável de ônibus para São Paulo. Marina sempre agiu clandestinamente, no happy hour da firma e nos almoços de família, até que resolveu matricular-se numa oficina de escrita. Foi lá que descobriu o livrinho Delírio de Damasco, da escritora gaúcha Verônica Stigger, que parte do mesmo procedimento que Marina vinha, de modo tímido, experimentando. A partir daí, Marina intensificou seu processo de apropriação, fazendo do roubo um gesto artístico. (...)