Alguém algum dia te acusou de alguma coisa ou você mesmo se acusou? O que significa ser acusado de alguma coisa? Quem acusa o que? Como acusa? Por que acusa? Ser incriminado é ser ofendido? Você pode vir a ser incriminado algum dia ou isso só acontece com criminosos e bandidos? Essa e outras perguntas demarcam uma área de estudos para a qual este livro trás uma importante contribuição. Dez estudos inéditos sobre os processos sociais através dos quais comportamentos e indivíduos interagem sob o signo da acusação e da incriminação. O objetivo é levar o leitor a compreender como diferentes situações sociais de conflito podem ser socialmente definidas como resultantes ou produtoras de processos de acusação e incriminação. Nesse sentido, entre o simples ato de "dar uma desculpa" e as mudanças legais que agravam as penas no Código Penal, revela-se toda uma variedade de situações, eventos e ações que se cumprem sob a disputa de significados morais e interesses, num complexo conjunto de conflitos. A obra ultrapassa os enquadramentos convencionais de estudos acadêmicos sobre controle social na medida em que se encontra inevitavelmente impregnada do tema das violências cotidianas de nossos dias. Os desafios analíticos postos pela hegemonia do discurso sobre a violência urbana na mídia e na representação social redirecionaram o foco da maioria dos trabalhos aqui reunidos. O diálogo desloca-se quase sempre do campo das ciências sociais para o campo em que se constrói o problema público da violência e da segurança dos cidadãos. Os trabalhos encontrados nesta coletânea lidam com questões como essas, no Brasil ou na Argentina, na imprensa ou nos asilos da velhice, entre grafiteiros, jurados do Tribunal do Júri e policiais que tentam reformar a polícia. Rótulos, etiquetas, estigmas, sujeições - são variados os meios através dos quais se agravam as acusações e instituem-se novos e mais complexos conflitos, com mais graves e perigosos acusados. Com exceção do ensaio do organizador, Michel Misse, todos os trabalhos aqui apresentados resultaram de pesquisas realizadas no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFRJ, no âmbito do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana (NECVU).