Esta obra se propõe analisar cinco processos inquisitoriais do Santo Ofício português, do século XVI. Os processos foram abertos contra quatro integrantes de uma família da cidade de Matosinhos, no litoral do Distrito do Porto, composta por cristãos-novos e mouriscos, ou seja, judeus e muçulmanos convertidos para o cristianismo. Todos os integrantes foram acusados de realizarem práticas religiosas judaicas, proibidas no reino luso desde 1496. Uma de suas integrantes foi investigada duas vezes, a mourisca Antônia Vaz, personagem cuja trajetória particular guiou esta pesquisa e cuja singularidade de suas acusações, por práticas religiosas criptojudaicas e criptoislâmicas, gerou o ineditismo deste estudo.Antônia Vaz, cativa muçulmana natural do norte da África, teve três filhos ilegítimos com o seu senhor, o cristão-novo Gabriel Álvares. As relações interpessoais construídas no interior desta inusitada família revelaram, para além das articulações religiosas entre as duas identidades étnicas envolvidas, os arranjos familiares variados no universo Quinhentista português, mais comuns, talvez, do que temos imaginado até hoje.