“Tive ouro, tive gado, tive fazendas. / Hoje sou funcionário público. / Itabira é apenas uma fotografia na parede. / Mas como dói!”. Nos conhecidos versos finais de “Confidência do itabirano”, está condensada a trajetória pessoal do autor, Carlos Drummond de Andrade, das fazendas de Itabira às repartições públicas do Rio de Janeiro. E neles também repercutem as profundas mudanças sociais por que passava o Brasil de então, com suas oligarquias rurais lentamente cedendo às pressões da urbanização. Em Drummond Cordial – trabalho que foi um dos vencedores do IV Concurso Nacional de Ensaios Ministério da Cultura Nestlé –, o jornalista e crítico Jerônimo Teixeira analisa a dimensão histórica da poesia drummondiana com ajuda da noção de “homem cordial”, desenvolvida por Sérgio Buarque de Holanda.A cordialidade não é, como muitos acusam – às vezes sem ler Raízes do Brasil –, uma apologia da bondade pátria. Pelo contrário, trata-se de um conceito que até hoje guarda grande alcance crítico para a análise da vida institucional brasileira .Os bens e o sangue” e “Escada”, entre outros. Com sensibilidade apurada, Drummond Cordial desvenda detalhes até hoje pouco observados na dolorosa fotografia que o poeta itabirano pendurou em nossa parede.